sexta-feira, setembro 15, 2006

Que (quais) cinema(s) político(s) hoje?

Editorial do ciclo O cinema que reinventa a Política

Jean-Michel Frodon
Diretor da revista Cahiers du Cinéma

Arte coletiva – duplamente coletiva, pois nascida do trabalho de um grupo, articulado através da visão de um autor e destinada a ser vista em grupo –, o cinema é, por natureza, “trabalhado” pela política. Nunca escapa disso. Porém não é necessariamente quando se confronta com ela de forma mais explícita, mais literal, que o cinema torna-se mais fecundo em seu terreno. Ao contrário, ele se engana e se paralisa quando pretende apropriar-se da coisa política de outra maneira que não seguindo seus próprios procedimentos. Mais de um século de cinema nos ensinou os limites e os perigos do cinema-discurso, do cinema-ilustração, do cinema-acusação, do cinema-propaganda. E, ao mesmo tempo, essa mesma história testemunhou o potencial singular das encenações cinematográficas enquanto dispositivos críticos originais: como formas de questionar as relações entre indivíduos, entre grupos, entre homens e mulheres, entre pais e filhos, entre presente e passado... O conjunto dessas relações é a própria política.
Durante muito tempo, grandes modelos ideológicos forneceram explicações gerais e foram, também, objeto de debates. Hoje, é o próprio princípio de modelo de explicação que está sendo criticado. Este questionamento faz vacilar a crença estabelecida na possibilidade de um terreno estável de indagação. A noção de autor e de encenação está em crise, ou seja, pede uma reformulação. Simultaneamente, outras representações do mundo mais recentes (a televisão, o virtual...) levam adiante suas construções de sentido e seus efeitos no corpo social, desafiando o cinema a dar uma resposta, opondo-se a elas, usando de artimanhas, reestruturando sua crítica. Hoje, a política no cinema atua simultaneamente em todos estes campos, dispersos, heterogêneos, efervescentes ou subtilmente delicados. Ela, às vezes, atua através de afirmações frontais, que se tornaram necessárias pelas urgências do momento – mas, freqüentemente, num mundo onde os poderes aprenderam a usar em proveito próprio os ataques e as rebeliões, inventando novos recursos críticos, mais complexos, mais perturbadores.
Dessas respostas políticas – parciais, transitórias, hipotéticas – cada formação social hoje apresenta algumas implementações singulares, que repercutem mais ou menos entre si, se correspondendo ou se contradizendo para compor a muito rica e complexa galáxia de sentidos políticos do cinema contemporâneo. No seu cerne, um corpus de filmes europeus recentes, como o que apresentamos nesta mostra, desenha, de maneira parcial, porém sugestiva, as estratégias críticas que essa parte do mundo hoje é capaz de conceber.

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1 Comentários:

Às 19/9/06 11:17 PM , Anonymous Anônimo disse...

o blog ta lindo, como sempre!

bjos,amigo.

 

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