quarta-feira, junho 21, 2006

A ABOLIÇÃO DO TRABALHO
Bob Black

“A maioria das mulheres e dos homens tem que estar acordados durante décadas das suas breves vidas para conquistarem os seus “salários marmitas”. Não é ilusório denominar o nosso sistema de democracia, capitalismo ou melhor ainda industrialismo, mas o seu verdadeiro nome é fascismo fábrica e oligarquia de ofício. Quem afirmar que estas pessoas são livres está a mentir ou é estúpido. Tu és aquilo que fazes. Se fazes coisas chatas, estúpidas ou monótonas, acabarás chato, estúpido e monótono. A existente rastejante “cretinização” é revelada pelo trabalho mais do que, inclusive, pelo triste mecanismo da televisão e da educação. Um povo que se encontra arregimentado, habilitado para o trabalho pela escola, colocado entre parêntesis pela família e finalmente no lar para a terceira idade, está habituado à hierarquia e psicologicamente escravizado. As suas aptidões à autonomia encontram-se tão atrofiadas que tem medo do que possa significar a liberdade. Cada membro desse povo transporta para dentro da família a sua treinada obediência no trabalho iniciado, deste modo, a reprodução do sistema em diferentes caminhos: políticos, culturais e outros.”

“Vamos pretender, por um momento, que o trabalho não nos prejudica. Vamos esquecer que o trabalho não afeta a formação do nosso caráter. Vamos fingir que o trabalho não é, nem chato, nem cansativo, nem humilhante. Mesmo assim, o trabalho irá troçar das nossas aspirações humanistas e democratas e ocupar muito do nosso tempo. Sócrates disse que o trabalho manual faz de nós maus amigos e maus cidadãos porque não temos tempo para cumprir as responsabilidades da amizade e da cidadania. Ele tinha toda a razão. Por causa do trabalho, pouco importa o gênero ou tipo, estamos sempre a olhar para o relógio. A única coisa “livre”, a que chamamos “tempo livre”, é o tempo que nada custa ao patrão. Aquilo a que designamos “tempo livre” é, a maior parte das vezes, o momento que nos preparamos para voltar, ir e retomar ao trabalho e dele recuperar. “Tempo livre” é eufemismo, considerando o fator produtivo. Não só as despesas de transporte, como também o tempo que levamos para chegar ao trabalho, são despesas que nós suportamos e tempo gratuito que nós é roubado. Não foi por acaso que Edward G. Robinson, num dos seus filmes de “gangsters”, exclamou: O trabalho é para os “marrões”!”

“a definição de Friedrich Schiller sobre o divertimento, é satisfatória. Para ele, o divertimento é a única ocasião em que o Homem realiza a sua capacidade humanitária ao dar pleno divertimento a ambas as partes da sua dupla natureza: pensar e sentir. Como ele afirmou, “o animal só trabalha quando necessita de alimentos e diverte-se quando satisfaz essa necessidade”. Divertimento e liberdade são, aos olhos da produção, objetos que se fundem um no outro.”

“O que eu gostaria realmente de ver acontecer é a transformação do trabalho em jogo. Um primeiro passo será descartarmos as noções de emprego e ocupação. Mesmo as atividades que já tenham algum teor lúdico perdem a maior parte deste ao serem reduzidos a empregos que certas pessoas, e apenas essas pessoas, são obrigadas a executar sem poderem fazer mais nada na vida. Não será esquisito que os operários agrícolas se esfarrapem a trabalhar nos campos, ao passo que seus amos com ar condicionado vão para casa todos os fins de semana dedicarem-se a “bricolage” nos jardins respectivos? Num sistema de festa permanente veremos a idade áurea do diletante que fará o Renascimento empalidecer com vergonha. Não haverá mais empregos, apenas coisas para fazer e pessoas para as fazer.

Como Charles Fourier demonstrou, o segredo da transformação do trabalho em brincadeira consiste em fazer com que nas atividades úteis se aproveite tudo o que várias pessoas em alturas várias realmente gostam de fazer. Para possibilitar que algumas pessoas possam fazer as coisas de que gostem será suficiente erradicar as irracionalidades e distorções que conspurcam essas atividades quando elas são reduzidas a trabalho.”

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1 Comentários:

Às 22/6/06 9:45 AM , Anonymous Anônimo disse...

Thi, amei o texto... muito bom mesmo.

 

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